21 Outubro 2015
O representante de Porto Rico no Sínodo dos Bispos em curso pediu incisivamente por uma espécie de caminho penitencial no sentido de levar a Comunhão aos católicos que se divorciaram e se casaram novamente, dizendo que a prática atual não lhes permite um “encontro pleno” com Cristo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 19-10-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Arcebispo de San Juan, Dom Roberto González Nieves disse, 270 prelados no encontro, que a prática de católicos recasados entrando na fila da Comunhão com os braços cruzados para indicar que desejam receber uma bênção, em vez da Eucaristia, demonstra que a “comunhão espiritual não é suficiente”.
“Este gesto mostra e sugere várias coisas”, disse González sobre essa prática durante a sua alocução de três minutos diante do Sínodo. “É uma manifestação do desejo de comunhão sacramental e estas pessoas se humilham perante a comunidade, deixando claro a todos sobre a sua situação ilegal; é como se dissessem: Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!”
Dizendo que queria apresentar propostas para “entrar em diálogo com a complexidade da realidade pastoral e da salvação das almas”, González sugeriu ao Sínodo que certas pessoas divorciadas e recasadas pudessem participar de algo semelhante a uma “ordem de penitentes” por meio de participação em “lugares de encontro com Jesus Cristo”.
Citando um trecho da exortação apostólica Familiaris Consortio, do Papa João Paulo II, o arcebispo disse que uma tal caminhada seria “gradual e proporcional” e que levaria tais pessoas “passo a passo à vida moral mais profunda e sincera de fé”.
Cada um dos participantes do Sínodo dos Bispos tem a autorização de fazer, pelo menos, um breve discurso durante um encontro aberto em plenário. Embora estes discursos não estejam sendo publicados pelo Vaticano, González deixou disponível o seu texto completo em espanhol ao público.
Um dos debates que está havendo no Sínodo a portas fechadas diz respeito à postura da Igreja para com os fiéis divorciados e recasados que se assim procederam sem, antes, obter a devida anulação matrimonial da relação anterior. Tais pessoas estão atualmente proibidas, segundo o ensino da Igreja, de receber a Eucaristia.
Ao identificar as escrituras, a oração, a liturgia, a Eucaristia e o Sacramento da Reconciliação como lugares de encontro com Cristo, González sugere que um caminho penitencial possa oferecer a estas pessoas uma espécie de “segundo batismo”, onde elas poderiam resolver um “conflito de valores” entre a indissolubilidade do matrimônio, a dignidade humana e a salvação.
Citando uma homilia do Papa Francisco durante uma missa em Washington para canonizar o missionário franciscano do século XVIII chamado Junípero Serra, o arcebispo falou que o pontífice lembrou aos católicos que Jesus “não deu uma espécie de lista de quem é digno, e de quem não é digno, de receber a sua mensagem e a sua presença”.
“Longe de esperar uma vida com um belo histórico, um alguém bem vestido e bem penteado, ele [Jesus] abraçou a vida tal como a encontrou”, citou González. “Não fazia diferença se a pessoa estava suja, despenteada...”.
“Sem entrar em detalhes sobre a responsabilidade moral em relação aos seus filhos: Seria certo que, em um casal, um dos cônjuges abandona o outro com o pretexto de viver em castidade?”, perguntou-se o arcebispo aos prelados sinodais.
“Onde se encontra a dignidade e a responsabilidade para com a pessoa abandonada?”, continuou o arcebispo. “Se acreditamos na eficácia do sacramento penitencial como um sacramento de conversão, então por que negá-lo a estas pessoas, as quais podemos guiar no sentido de se encontrarem com o Senhor, que pode convertê-las?
“Esta caminhada penitencial, com o propósito renovado de trazer de volta o caminho certo a este irmãos e irmãs, terá as condições de oportunidade pelas quais, extraordinariamente, eles podem, de forma progressiva, integrarem-se aos dons de Deus e as suas exigências”, disse o arcebispo, citando novamente o texto de Familiaris Consortio.
“Isso implica que, no caminho penitencial, estes irmãos e irmãs retomam a sua união eclesiástica por meio da Eucaristia, quando as condições estabelecidas pela Igreja forem verificadas”, completou González.
“Tal não será um prêmio por que eles são bons, mas irá ser a sua força na fraqueza (...) um contributo para ajudá-los a continuar na caminhada”, afirmou o prelado. “A hóstia consagrada é o remédio para a alma, e quem tem uma ferida procura por remédio, diz Santo Ambrósio”.
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Arcebispo de Porto Rico pede por caminho à Comunhão a fiéis recasados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU